O antigo treinador do FC Porto, que conquistou o último título europeu do clube, em 2011, apresenta-se como a cara da transformação e pretende mudar o paradigma que se tem instalado nos últimos anos. Entre as principais críticas à atual liderança, destacam-se a política de contratações, a perda de capacidade competitiva e a situação financeira dos dragões, que tem gerado várias saídas a custo zero de alguns dos principais intérpretes dos últimos anos da equipa principal de futebol.

O agora candidato a liderar os dragões, de 46 anos, assenta a sua visão para o futuro dos azuis e brancos em oito pilares, fundamentais para mudar o rumo do clube e garantir um futuro mais risonho. Para atingir o sucesso,  é fundamental a complementaridade entre todos os pilares.

1-Ambição desportiva

Neste capítulo, a candidatura de Villas-Boas pretende capacitar as equipas do clube de talento necessário para disputar todas as competições em que participa. Não só no futebol, mas também ao nível das modalidades, que têm vindo a perder a hegemonia nos últimos tempos. O objetivo passa por "criar equipas permanentemente competitivas, marcadas pelo desejo de vencer em todas as frentes e em todas as modalidades".

Além disso, a formação e o scouting serão os " eixos da construção de equipas sustentadas por departamentos altamente profissionais e eficazes". A missão principal passa ainda por "formar mais e melhores jogadores apoiados por uma equipa qualificada e de excelência desportiva".

A formação terá um papel fundamental, até porque AVB considera que neste momento a capacidade de captação de jogadores do FC Porto "está frágil" e que se tem perdido vários talentos para os clubes rivais. O menor número de atletas nas Seleções Nacionais jovens ilustra esse problema

2-Sustentabilidade financeira

Esta é uma das principais bandeiras da candidatura de André Villas-Boas que pretende reduzir o passivo e encontrar alternativas para que o FC Porto volte a conseguir ser um potenciador de ativos, através dos quais sustente a estabilidade financeira do clube.

As saídas de vários ativos a custo zero nos últimos anos tem sido muito criticada pelo candidato, que acredita na importância de uma melhor política de contratações para diminuir as perdas com aquisições falhadas e a  desvalorização de jogadores que acabam por não funcionar na equipa principal.

Para isso, será necessária uma reestruturação financeira do clube e a modernização das estruturas, até para conseguir "assegurar a estabilidade e o crescimento sustentável" do emblema azul e branco. Para atingir estes objetivos, Villas-Boas nomeou José Pedro Pereira da Costa como responsável pela área financeira, que durante dez anos foi CFO (Chief Financial Officer) da NOS.

Além das boas prestações nas competições europeias, o candidato acredita que a chave do sucesso neste parâmetro está ligada à formação. “É essencial investir numa boa academia. Um modelo que possa fornecer cada vez mais talento, combinado com um gabinete de performance que acompanhe os jogadores até chegarem à equipa principal. A venda destes atletas será crucial para garantir a nossa sustentabilidade financeira”, explicou.

Outra das críticas fortes à atual gestão prendem-se com a evolução negativa do passivo e a incapacidade de gerar receita. “Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões de euros em vendas e, em 2015, fez o maior contrato de transmissões televisivas. Qual é a realidade atual? Um passivo de 500 milhões e uma dívida de 310 milhões,  nossa capacidade competitiva ameaçada, as contas em total descontrolo. Nos últimos 20 anos, o FC do Porto gerou mais de 2,9 mil milhões de euros em receitas, e hoje temos um clube incapaz de acautelar a sua responsabilidade”, assinalou.

Para contrariar a situação financeira atual, que AVB acredita estar no mau caminho, o candidato defende a redução do passivo, o aumento das receitas, a redução dos custos operacionais e a criação de uma marca global FC Porto.

3-Visão. Rigor. Trabalho. Planeamento

Estes são os pressupostos imateriais pelos quais a lista de Villas-Boas se pretende reger ao longo do mandato. Curiosamente, estes têm sido também alguns dos pontos em que mais acusa Pinto da Costa de falhar nos últimos tempos e que considera terem levado à situação atual do FC Porto.

Para levar este tópico a cabo, considera absolutamente fundamental "ouvir, debater e decidir de forma a corresponder às necessidades do clube e dos sócios". Villas-Boas explicou que a "única agenda é servir os sócios" e revelou os motivos que estiveram na génese da candidatura.

"Esta candidatura nasceu da ideia de ver um FC Porto renovado, estruturado e solto de amarras que o impedem de se lançar na modernidade. Tem o seu corpo na união de competências de várias pessoas que se juntam a este projeto imbuídas num espírito de missão de transformar o FC Porto". Precaver novas formas de receitas e antecipar problemas também são ideais que fazem parte da solução.

4-Transparência na gestão

A gestão financeira do clube é claramente um ponto central, relativamente ao qual todos os outros são dependentes para assegurar o futuro. A transparência pedida pelo antigo treinador dos dragões está relacionada com alargar a pirâmide de informação a todos os estratos do clube, em vez de se resumir às mais altas instâncias.

André Villas-Boas acredita que o clube tem perdido transparência nas suas operações e que isso também explica a "necessidade de mudança". "O degradar permanente da situação financeira é o reflexo de uma gestão gasta e antiquada, com uma comunicação agarrada ao passado e que teima em viver de guerrilhas que afetam o seu crescimento. Fala-se em dívidas, passivo, processos, saídas a custo zero e de terceiros a lucrarem indevidamente com o clube, sempre a coberto de uma ausência de transparência cada vez mais evidente", afirmou.

A lista B pretende um clube irreprovável do posto de vista da ética e transparência e, para isso, considera importante "estabelecer níveis de confiança elevados com as Instituições e 'stakeholders' de mercados nacionais e internacionais solidificando a marca Futebol Clube do Porto".

Além de prometer reduzir em 50% a remuneração fixa da administração, a ideia de AVB passa por tornar público para os sócios e adeptos "todos os custos associados em intermediações com compra ou venda de jogadores ou negócios estruturantes do FC Porto", que serão declarados no portal da transparência.

5-Dinamizar as Casas do FC Porto

As Casas do FC Porto são pontos de encontro vitais para que os sócios e adeptos mais distanciados da cidade do Porto consigam ter um local físico onde partilham o amor ao clube com os seus pares. Há várias espalhadas pelo País e mesmo no estrangeiro, que são o garante de que o 'portismo' se mantém bem vivo longe do núcleo.

Por isso, esta é uma parte estratégica da visão de AVB, que entende serem importantes para reavivar "o associativismo perdido" e que neste momento estão um pouco esquecidas. O dirigente revelou que apenas 155 dos sócios das respetivas Casas são também sócios do clube e entende que há problemas, nomeadamente com a bilhética, que têm de ser resolvidos.

"Houve várias falhas de comunicação, o que não é adequado a um clube com a dimensão do FC Porto. Há muitos problemas relacionados com a bilhética.  As Casas devem ser potenciadas, queremos uma categoria que beneficie o sócio da Casa e sócio do FC Porto. Cerca de 88% dos sócios do FC Porto estão em apenas 3 distritos (Porto, Aveiro e Braga) e 12 no resto… é realmente muito pouco.  O FC Porto tem de deixar de estar fechado em si", assumiu, pedindo uma expansão para fazer crescer o emblema portuense.

Para controlar esta questão, o candidato acredita ainda que seria benéfico operar uma "uma reformatação dos protocolos estabelecidos com os Grupos Organizados de Adeptos" para implementar uma divisão mais equitativa de benefícios e de bilhetes para os jogos.

6-Expansão Nacional e Internacional

Aqui a era digital assume um papel preponderante para consumar a transformação. Os valores do clube, que se prendem na ambição, tradição e paixão, são a base dos ideais pelos quais o FC Porto quer ser reconhecido e o ponto de partida para uma expansão da marca a todos os níveis, que terá na era digital o melhor veículo para a assegurar.

Nesta área, André Villas-Boas nomeou Tiago Madureira como diretor executivo e o antigo dirigente da Liga entende que este processo já deveria estar numa fase mais avançada.

"É chocante que, em 2024, numa altura em que qualquer organização internacional usa meios digitais, o FC Porto ainda fale em iniciar a essa transformação digital. Num mundo que se mexe ao segundo, o FC Porto está parado no tempo. É obrigatório trazer de volta o FC Porto à modernidade. Será um processo integrado que vai tocar nas várias unidades do grupo, mesmo na parte desportiva, que vai melhorar com isto. Mas será junto dos adeptos que isto se vai materializar de forma mais vincada", declarou Madureira.

Este capítulo é importante na aquisição de valor através de parceiros e serve também para continuar a fazer crescer a base de adeptos, que é significativamente menor do que a de alguns rivais.

7-Um clube mais eclético

O FC Porto tem, obviamente, mais investimento no futebol, mas é um clube com tradição noutras modalidades. De momento, o emblema portista conta com modalidades como Andebol, Basquetebol, Hóquei em Patins, Voleibol, Bilhar, Boxe, Natação e Desporto Adaptado, mas tem ficado para trás em duas vertentes muito importantes no panorama nacional desportivo.

Em primeiro lugar a ausência de uma equipa de futebol feminino sénior é um impedimento ao crescimento do clube, uma vez que é uma área que tem evoluído muito em Portugal e onde os rivais, Benfica e Sporting, e mesmo o SC Braga se destacam. Em segundo lugar, a criação de equipas de futsal nos vários escalões também é uma das prioridades do candidato, que vê na modalidade em que os portugueses têm dado tantas cartas, uma boa forma de atrair mais adeptos e divulgar a marca do clube a nível internacional.

Para ajudar a cumprir esta missão, AVB nomeou Mário Santos como diretor desportivo das modalidades, com o objetivo de "reforçar a competitividade das modalidades em atividade, integrando a vertente feminina, manter a aposta no desporto adaptado com a mesma ambição e integrar novas modalidades". O antigo presidente da Federação Portuguesa de Canoagem acredita que para avançar neste tema não se pode descurar " a sustentabilidade financeira, nem as infraestruturas físicas, como um centro de alto rendimento". Para Mário Santos é importante a posta num plano de curto prazo para a criação de modalidades disputadas no feminino, além do futebol.

8-Infraestruturas

Este é um dos pontos onde as divergências com as outras candidaturas começam, uma vez que Villas-Boas não concorda com a construção de uma Academia na Maia, como Pinto da Costa pretende. O candidato da lista B pretende que a Academia de formação do FC Porto "deve ser integrada no Centro de Treinos e Formação Desportiva do Olival".

Já a equipa principal, a B e os sub-19 teria um Centro de Alto Rendimento, também no Olival, de forma a "unificar o futebol profissional e de formação". Esta obra terá um custo aproximado de 35 milhões de euros e será composto por um terreno com 31 hectares, com cinco campos de futebol e três edifícios.

O edifício principal será um espaço para residentes e apoio desportivo, que terá um ginásio de alto rendimento, spa, balneários e salas de administração e gestão técnica. Já o segundo será um pavilhão gimnodesportivo, com recinto polivalente e capacidade para 400 espetadores, enquanto a terceira infraestrutura funcionará como apoio desportivo, com receção, auditório com capacidade para 48 lugares, ginásio, balneários profissionais e áreas de apoio médico.

Escolha de treinador

Este é um dos temas onde parece que André Villas-Boas ainda não terá decidido a 100%. Embora já tenha admitido que se for eleito se vai sentar com Sérgio Conceição, já foram vários os nomes apontados ao banco portista no caso de vitória da lista B. AVB admitiu ainda que foi abordado o nome de Gian Piero Gasperini, que treina a Atalanta, mas ainda nenhum dos dois estará em conversações efetivas para assumir o cargo.

Recorde as declarações do candidato à presidência sobre o tema. "Gostava de começar por respeitar a palavra do treinador. Sérgio Conceição esteve sempre à parte do processo eleitoral, não é fácil para ele. Em 2020, já era treinador, foi campeão, já aconteceu antes, não é a primeira vez. A diferença é o poder da candidatura da oposição. É a primeira pessoa que vou abordar. Quero perceber por que não foi feita a sua renovação, pode ter a ver com o seu futuro. Vou fazê-lo depois das eleições".

Equipa Diretiva

Presidente da Mesa da Assembleia Geral: António Tavares

Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar: Angelino Ferreira

Primeiro candidato ao Conselho Superior: Fernando Freire de Sousa

Diretor Executivo para a área operacional: João Borges

Diretor executivo para a área jurídica e de relações internacionais: José Luís Andrade

Diretor executivo para a área de negócios e expansão internacional: Tiago Madureira

Administrador financeiro: José Pedro Pereira da Costa

Direção desportiva: Andoni Zubizarreta

Diretor de futebol das equipas profissionais: Jorge Costa

Diretor Desportivo das modalidades: Mário Santos

Vice-Presidente para projetos sociais: Rui Pedroto

Frases marcantes da campanha

  1. "O FC Porto precisa de mudança. Tenho vindo a preparar-me nesse sentido, ser um motor de transformação do FC Porto".
  2. "Este é o momento, ninguém está aqui para trair ninguém ou para denegrir ninguém. O presidente é peça fundamental da sua história, é o presidente dos presidentes e assim será recordado para sempre".
  3. "São inúmeros os jogadores a saírem a custo zero, as contratações falhadas por falta de análise, rigor e planeamento. Ou será que servem interesses de outros, alheios ao FC Porto?".
  4. "Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões de euros em vendas e, em 2015, fez o maior contrato de transmissões televisivas. Qual é a realidade atual? Um passivo de 500 M€ e uma dívida de 310 milhões de euros".
  5. "Sendo o FC Porto o clube do meu coração, é minha obrigação estar disponível para este momento de transformação. Vivi o clube por dentro como adepto, sócio, observador e treinador da equipa principal".
  6. "Apresento esta candidatura para devolver o FC Porto aos sócios, para que o clube seja novamente uma fonte de alegria e vitórias, uma inspiração para os nossos jovens. Com coragem de querer cortar com o 'status quo' existente, onde impera o medo e onde ninguém se pode exprimir livremente sem ser ameaçado ou censurado".
  7. "Nos últimos 20 anos, o FC Porto gerou mais 2,9 mil milhões de euros em receitas e, hoje, temos um clube incapaz de acautelar a sua responsabilidade e que vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo e sem nexo".

Com esta candidatura, André Villas-Boas pretende implementar uma nova forma de viver o futebol e uma alternativa à forma como o FC Porto se insere no futebol português. O treinador que pretende virar presidente, traz ideias novas e estruturadas sobre o que quer para o clube, pretendendo quebrar um paradigma que já tem 42 anos.

A visão para a Academia, a formação e as modalidades são algumas das ideias novas que põe em cima da mesa, com uma equipa muito mais jovem para se adaptar aos novos tempos.